A morte da cantora Preta Gil, aos 50 anos , vítima de câncer colorretal é um alerta importante para todos nós: o câncer colorretal não é mais uma doença que afeta apenas os mais velhos. Nos últimos anos, estudos vêm demonstrando um aumento preocupante nos casos diagnosticados em pessoas com menos de 50 anos.

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Em vários países, incluindo o Brasil, a incidência entre jovens cresce cerca de 2% ao ano — mesmo enquanto a taxa total da doença diminui entre os mais velhos, graças ao rastreamento preventivo. Não há uma causa única para explicar essa tendência.

“Fatores como sedentarismo, obesidade, dieta rica em carnes processadas e pobre em fibras, consumo excessivo de álcool e tabagismo aumentam o risco de desenvolver câncer colorretal”, afirma a coloproctologista Glícia Abreu.

Doenças inflamatórias intestinais, como a retocolite ulcerativa e a doença de Crohn, e síndromes genéticas hereditárias também estão associadas ao aparecimento precoce da doença.

No entanto, o que mais preocupa é que cerca de metade dos casos em jovens não apresenta nenhuma predisposição genética ou histórico familiar, o que dificulta a detecção precoce, reforça Glicia.

Entre os principais sintomas estão o sangramento nas fezes, dor abdominal frequente, alterações persistentes do hábito intestinal (como diarreia ou constipação), perda de peso sem explicação, sensação de evacuação incompleta e cansaço excessivo.

“Infelizmente, muitos desses sinais são atribuídos a causas benignas ou ignorados tanto por pacientes quanto por profissionais de saúde, o que contribui para que o diagnóstico ocorra, em grande parte dos casos, já em estágios avançados da doença” , alerta Glicia.

Entre os pacientes com menos de 50 anos, mais de 60% são diagnosticados nos estágios III ou IV. Diante desse cenário, a recomendação oficial para rastreamento do câncer colorretal no Brasil foi atualizada: agora, a triagem deve começar aos 45 anos, mesmo para pessoas sem sintomas ou histórico familiar.

A colonoscopia continua sendo o exame mais completo, pois permite detectar e remover lesões antes que se tornem câncer. Existem também exames menos invasivos, como os testes de sangue oculto nas fezes, que servem como alternativa inicial para quem ainda não pode fazer a colonoscopia.

Além do rastreamento, a prevenção depende de hábitos saudáveis: manter uma dieta equilibrada, rica em fibras e pobre em carnes processadas, praticar atividade física regularmente, manter o peso adequado, evitar o fumo e o consumo excessivo de álcool são medidas eficazes para reduzir o risco da doença.

Ainda assim, mesmo quem leva uma vida saudável deve prestar atenção aos sinais do corpo e buscar ajuda médica sempre que notar algo diferente. A trajetória de Preta Gil escancarou uma realidade ainda pouco discutida: o câncer colorretal pode sim atingir pessoas jovens. E sua luta pública trouxe visibilidade a uma doença que ainda é cercada de silêncio.

A mensagem que fica é clara: não ignore sintomas, não adie exames e não subestime os sinais do seu corpo. Diagnóstico precoce salva vidas. E, diante de um cenário que vem mudando tão rapidamente, informação e prevenção são as melhores formas de se proteger, conclui Glícia.