A Bahia conta com reforço estratégico no combate ao risco silencioso: foram entregues 90 ampolas de etanol farmacêutico ao almoxarifado da Secretaria de Saúde do Estado (Sesab). Esse composto não é mera formalidade burocrática — é antídoto vital em casos de intoxicação por metanol, quando bebidas alcoólicas foram adulteradas.

Em média, um tratamento completo exige cerca de 30 ampolas, o que faz desse lote baiano um socorro significativo à rede estadual. A secretária Roberta Santana enfatizou que essa entrega se insere num movimento preventivo diante do alerta nacional, garantindo “condições imediatas de resposta em situações de risco”.

O Ministério da Saúde, por sua vez, ampliou a ofensiva: além das 4,3 mil ampolas já disponibilizadas em hospitais universitários federais, está adquirindo 12 mil novas unidades de etanol farmacêutico e 2,5 mil de fomepizol — outro antídoto de eleição frente à intoxicação por metanol. Serviços e Informações do Brasil+2Agência Brasil+2

Esses estoques serão distribuídos aos estados conforme necessidade, inclusive antes de confirmação laboratorial dos casos — estratégia que visa acelerar o tratamento e reduzir danos graves. Serviços e Informações do Brasil+2Agência Brasil+2

Como age o antídoto — o mecanismo por trás da cura

Metanol, quando ingerido, é metabolizado pelo corpo em formaldeído e ácido fórmico — compostos tóxicos que podem causar cegueira ou morte. A chave para intervir está em interromper essa transformação. Aqui entra o papel do antídoto:

  • Etanol farmacêutico: atua como inibidor competitivo da enzima álcool desidrogenase. Em outras palavras, ele “compete” com o metanol pela via metabólica, retardando a produção dos metabólitos nocivos.
  • Fomepizol: antídoto preferencial quando disponível, bloqueia diretamente a enzima responsável pela transformação do metanol, de modo seletivo e eficaz, evitando os efeitos colaterais inerentes ao uso de etanol.

No Brasil, infelizmente, o fomepizol não possui registro sanitário local. Isso obriga o país a importar doses emergenciais e depender de medidas regulatórias excepcionais para garantir seu uso.

Dessa forma, o etanol farmacêutico segue como principal antídoto em solo nacional, exigindo precisão na administração e monitoramento clínico rigoroso.


O panorama nacional do surto

Segundo dados do Ministério da Saúde, até a manhã de domingo (5) havia 209 casos em investigação de intoxicação por metanol em todo o país. Destes, 16 foram confirmados — 14 em São Paulo e 2 no Paraná.

São Paulo concentra o epicentro das notificações: 14 confirmados e 178 em investigação. Ao todo, 13 estados registraram casos suspeitos, enquanto Bahia e Espírito Santo descartaram notificações ativas. O Ceará registrou seu primeiro caso suspeito.

Em matéria de vítimas fatais, são 15 óbitos registrados — 2 confirmados (em São Paulo) e os demais sob investigação em diferentes estados.

Diante disso, o Brasil mobilizou-se para escalonar o envio de antídotos: nesta primeira rodada, foram distribuídas 580 ampolas de etanol farmacêutico entre Bahia, Pernambuco, Paraná, Distrito Federal e Mato Grosso do Sul.

Há planos mais ousados: a aquisição emergencial de 150 mil ampolas de etanol farmacêutico e a intensificação das negociações internacionais para garantir doses de fomepizol.

Para fortalecer esse esforço, a Anvisa adotou medidas emergenciais para ampliar a produção nacional de etanol farmacêutico, publicando diretrizes temporárias para fabricação com prazo de validade controlado.

Atenção aos sintomas e recomendações

A intoxicação por metanol é uma emergência médica — cada hora conta. Os principais sinais incluem:

  • Visão turva ou perda de visão (em casos graves, cegueira);
  • Náuseas, vômitos, dor abdominal;
  • Sudorese, mal-estar generalizado.

Se houver suspeita de ingestão de bebida adulterada e surgirem sintomas, procure socorro imediato:

  • Disque 0800 da Anvisa: 0800 722 6001;
  • CIATox local;
  • Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo: (11) 5012-5311 / 0800-771-3733.

É crucial que pessoas que tenham ingerido a mesma bebida também procurem atendimento. A demora no diagnóstico e tratamento agrava drasticamente o risco de morte.