O especialista em cibersegurança Israel Brito acendeu um sinal de alerta: a superexposição de crianças e adolescentes nas redes sociais tem potencial devastador. Além de abrir espaço para manipulações por inteligência artificial e deepfakes, a prática amplia a vulnerabilidade diante de predadores digitais e crimes cibernéticos.

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Somado ao fenômeno da adultização, esse cenário transforma informações inocentes em combustível para o roubo de identidade, cyberbullying e até exploração sexual, em um contexto de ausência de regulamentação legal no Brasil.

Contexto e urgência

A internet, que conecta o mundo em segundos, também abriga correntes obscuras. Brito aponta que imagens de menores podem ser capturadas e reutilizadas em ambientes como a deep web, seja para chantagens, pornografia infantil ou golpes virtuais.

“Os dados digitais das crianças podem ser utilizados para diferentes finalidades, desde o roubo de identidade, cyberbullying, uso indevido de imagens e vídeos por pedófilos, até outras ameaças à segurança”, reforça.

Plataformas e algoritmos sob pressão

O debate ganhou força após a repercussão do documentário Adultização”, produzido pelo youtuber Felca, que expôs como algoritmos potencializam conteúdos com crianças em situações impróprias. A denúncia reverberou no Congresso e impulsionou projetos como o PL 2.628/2022, que prevê obrigações para que plataformas restrinjam conteúdos que exponham ou sexualizem menores.

O que é adultização

O termo define a imposição de comportamentos, discursos e experiências adultas ao universo infantil. A prática, muitas vezes alimentada por influenciadores e até por familiares, compromete o desenvolvimento da criança e acelera sua vivência de forma artificial e perigosa.

Riscos ampliados pela IA e pelos deepfakes

Com o avanço da inteligência artificial, imagens simples podem ser transformadas em deepfakes, simulando falas ou atitudes inexistentes. Esses materiais são frequentemente usados para disseminar pornografia infantil, aplicar golpes e difamar menores, tornando cada postagem um risco em potencial.

Cibercriminosos e predadores digitais

O perigo vai além da sexualização. Criminosos utilizam dados como nome completo, data de nascimento e localização para praticar extorsão, falsidade ideológica e aliciamento.

“Compartilhar essas informações é como entregar um mapa vivo da criança ao criminoso”, adverte Brito.

Como agir

A orientação é clara: restringir a exposição infantil, adotar configurações de privacidade rigorosas ou simplesmente não publicar fotos. Quando necessário, opte por álbuns privados e compartilhamento restrito a pessoas de confiança. Além disso, é fundamental educar os pequenos sobre segurança digital, lembrando que não possuem maturidade para avaliar riscos futuros. Em casos de abuso ou exploração, a denúncia deve ser feita ao Disque 100, serviço gratuito disponível 24 horas.

Entre os principais pontos de atenção estão: evitar divulgar localização, rotinas, nome completo, data de nascimento, imagens íntimas ou em roupas inadequadas, bem como registros de birras e crises emocionais. Especialistas recomendam ainda não identificar amigos ou familiares menores.

Israel Brito resume a questão como um compromisso ético.“Não se trata apenas de preservar dados, mas de proteger o sagrado da infância, garantindo que seja vivida com leveza e equilíbrio, finaliza.”

A defesa da infância digital exige responsabilidade, educação contínua e, sobretudo, regulamentação eficaz para assegurar um desenvolvimento seguro rumo à vida adulta.