São João é um período de festejos populares, além das comidas típicas, bebidas, músicas e demais manifestações culturais, incluindo os fogos de artifício. Mas o que encanta alguns, pode ser terror para outros. Para cães e gatos, especialmente aqueles em situação de rua, o estampido ensurdecedor e imprevisível representa mais que um susto: é uma ameaça real à vida.

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O som explosivo dos fogos, que muitas vezes ultrapassa os 150 decibéis, causa estresse agudo, taquicardia, convulsões, fugas, acidentes graves e até morte súbita.

“E por mais maravilhosa e feliz que seja essa festa, infelizmente, ela traz muitas situações tristes e fatais. Estamos falando de animais, sobretudo os que estão em situação de rua, que não têm para onde correr, nem onde se esconder. Cadê a nossa consciência?” Alerta o especialista em cães e gatos, e idealizador do Gataiada Podcast, Vitor Tranzillo.

A fauna silvestre também sofre severamente com o estampido. Aves abandonam ninhos, mamíferos entram em pânico, acidentes ocorrem em série e, não raramente, o resultado é letal. É um impacto ambiental silencioso aos olhos, mas estrondoso aos ouvidos da natureza.

Animais em situação de rua: os mais vulneráveis

Enquanto pets tutelados podem contar com algum amparo — ainda que muitas vezes insuficiente — os animais em situação de rua enfrentam um desamparo absoluto. Sem abrigo, sem aconchego e sem alguém para proteger, eles se tornam vítimas invisíveis das festividades humanas.

“Muitas vezes, eles estão em paz, quietos, até que o barulho os invade. É aí que entram em desespero, e a cidade vira armadilha: atropelamentos, quedas, brigas entre cães assustados… Tudo por uma diversão que ultrapassa o limite do respeito”, acrescenta Tranzillo.

Efeitos colaterais para além dos animais

O problema vai além dos bichos. Os estampidos dos fogos também afetam idosos, bebês, gestantes e pessoas com transtorno do espectro autista (TEA), podendo causar crises, “meltdowns”, episódios de estresse intenso, tremores e desregulação sensorial. Já está mais do que comprovado: o barulho dos fogos fere muito mais do que celebra.

O que fazer para proteger os animais?

Enquanto a legislação não avança de forma unificada em todo o Brasil, tutores e cidadãos conscientes podem adotar medidas práticas para proteger os animais:

  • Abrigue os animais em local seguro e silencioso, com janelas fechadas e música ambiente para abafar os sons.
  • Crie um refúgio confortável, como caixas de transporte, mantas e brinquedos familiares.
  • Evite deixá-los sozinhos: a presença do tutor acalma e reduz o estresse.
  • Não ofereça alimento durante os fogos, pois o estresse pode causar engasgos.
  • Consulte o veterinário sobre calmantes, caso o animal apresente ansiedade extrema.

Legislação: avanço importante, mas ainda desigual

Cidades e estados já avançaram no debate, com legislações que proíbem fogos com estampido. Entre os que já aprovaram normas estão:

Estados: São Paulo, Pernambuco, Goiás, Acre, Distrito Federal

Capitais: Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte, Campo Grande, Goiânia, Recife, Fortaleza e Macapá

Essas iniciativas são celebradas por protetores de animais e profissionais da saúde pública. “Meus parabéns às gestões dessas cidades. O restante do país precisa seguir esse modelo com urgência”, reforça Tranzillo.

Outros riscos causados por fogos de artifício

Além dos riscos auditivos e psicológicos, os fogos de artifício também representam ameaça física direta para animais e pessoas. Queimaduras graves são frequentes, especialmente quando os artefatos são manuseados de forma incorreta, muitas vezes por crianças ou em ambientes improvisados.

Soma-se a isso a poluição sonora, que ultrapassa os limites toleráveis tanto para seres humanos quanto para a fauna urbana e silvestre, criando um cenário de agressão coletiva disfarçada de comemoração. É tempo de repensar nossas festas e escolher formas de celebrar que não sacrifiquem a segurança e o bem-estar de todos.