O que deveria ser paz nas noites de bairros como Pernambués, Bairro da Paz, Paripe e Mirantes de Periperi virou ruído. Moradores dessas regiões da capital baiana vêm denunciando uma crescente onda de poluição sonora, com carros de som, paredões e festas que atravessam a madrugada. A equipe de reportagem do Portal A Teia conversou com moradores que, por medo de retaliações, pediram anonimato.
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Os relatos se repetem: “Já ligamos para o 156, já chamamos a polícia… Eles dizem que estão a caminho, mas não aparecem”, desabafa uma moradora de Pernambués. Em Paripe, outro relato reforça o descaso: “Tem final de semana que o som começa às 18h de sexta e só termina no domingo à madrugada”.
O problema, além do incômodo, se torna uma questão de saúde pública e de segurança. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o excesso de ruído pode gerar estresse crônico, insônia, irritabilidade, hipertensão e até depressão. Mas, na Bahia, o barulho tem ido além: tem matado.

Barulho que mata
No último dia 21, no município de Cristópolis, Jhones Gley Damaceno de Jesus, 40 anos, foi assassinado a tiros após uma briga causada pelo volume alto de som. A discussão aconteceu próximo a uma quadra de esportes e terminou em tragédia. O suspeito do crime, após levar um tapa, foi em casa, pegou uma arma e voltou para matar Jhones. A motivação: uma disputa pelo controle do volume do som.
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Dois dias antes, em Lauro de Freitas, outro caso semelhante: uma denúncia de som alto culminou em tiroteio e morte, segundo a Polícia Militar. A cidade assiste ao ecoar de um alerta ignorado: o ruído já passou do incômodo e virou violência letal.
Campanhas educativas existem, mas falham em transformar a realidade
Em resposta ao crescente número de reclamações, a Prefeitura de Salvador e o Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA) lançaram, no início desse mês uma campanha de conscientização sobre os malefícios da poluição sonora. Outdoors, painéis digitais e ações educativas se espalham pela cidade com mensagens de empatia e convivência pacífica.
A campanha, no entanto, parece não alcançar aqueles que promovem os abusos. De janeiro a maio deste ano, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (Sedur) registrou 10.688 denúncias, com 360 equipamentos apreendidos. Em 2024, os números ultrapassam 23 mil reclamações, uma média de 63 por dia.

Mesmo com a realização de operações integradas aos finais de semana, como a Operação Sílere, que envolve Sedur, PM, Polícia Civil e Transalvador, a sensação dos moradores é de impunidade.
Denunciar, mas para quem?
Os moradores afirmam que denunciam — e não são ouvidos. Enquanto a prefeitura pede colaboração da população, quem sofre com o problema reclama da ineficiência na resposta. Em algumas localidades, denúncias chegam a ser feitas diariamente, sem retorno.
As denúncias de poluição sonora podem (e devem) ser feitas pelos seguintes canais:
- Fala Salvador 156;
- Aplicativo Sonora Salvador;
- Ministério Público da Bahia: telefone 127 ou www.atendimento.mpba.mp.br.
As penalidades para quem comete esse tipo de crime podem chegar a até quatro anos de prisão e multas que variam de R$ 1.211,73 a R$ 201.788,90, além da apreensão dos equipamentos.
A produção do Portal A Teia entrou em contato com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e a Polícia Militar para apurar as denúncias, mas até o fechamento da matéria não obteve feedback.