Apesar dos avanços na medicina, a dor após a cirurgia de hemorroidas continua sendo uma das principais queixas dos pacientes e, muitas vezes, o motivo que os faz adiar o tratamento. Conhecida por seu desconforto intenso no pós-operatório, a hemorroidectomia convencional, que remove as hemorroidas por meio de cortes, ainda é amplamente realizada em todo o mundo.

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Embora seja eficaz no controle dos sintomas, ela costuma provocar dor significativa nos primeiros dias e até semanas após a cirurgia, o que interfere diretamente na qualidade de vida e no retorno às atividades normais.

A médica coloproctologista Glicia Estevam de Abreu, especialista em cirurgia proctológica minimamente invasiva, explica que o trauma causado pelo corte na mucosa anal é a principal causa dessa dor. “A região anal tem uma sensibilidade muito grande. Quando há lesão cirúrgica ali, especialmente se houver feridas abertas, o estímulo doloroso é inevitável. Isso impacta até funções básicas como sentar e evacuar”, afirma.

Para aliviar esse sofrimento, a medicina tem buscado alternativas. A médica afirma que uma das principais inovações é a cirurgia com laser, chamada de hemorroidoplastia a laser. Segundo ela, em vez de cortar as hemorroidas, o laser é aplicado dentro do tecido, causando sua contração e posterior redução de volume.

“Como não há cortes externos, a dor tende a ser muito menor. Estudos comparativos mostraram que pacientes operados com laser relataram até quatro pontos a menos na escala de dor logo no primeiro dia. Além disso, eles precisaram de menos analgésicos e se recuperaram mais rapidamente. A técnica também apresenta menor risco de complicações como sangramentos e estenose anal”, detalha Glícia.

Outro recurso que vem sendo estudado e utilizado em casos selecionados é a aplicação da toxina botulínica no esfíncter anal. A toxina, amplamente conhecida pelo uso estético, tem efeito de relaxamento muscular, conforme explica a médica. Quando injetada em pontos específicos do canal anal, pode reduzir significativamente a dor pós-operatória, diminuindo o espasmo da musculatura que frequentemente piora o desconforto após a cirurgia.

Glicia observa que essa estratégia é especialmente útil em pacientes que apresentam dor desproporcional ou histórico de fissura anal associada. “Não é para todos os casos, mas pode fazer diferença importante quando bem indicada”, ressalta.

Embora cada paciente tenha uma resposta diferente à dor, é inegável que os avanços técnicos e o uso de métodos complementares, como a toxina botulínica, têm mudado o cenário do pós-operatório da cirurgia de hemorroidas. Para a médica Glicia Abreu, o mais importante é que o paciente seja orientado corretamente e tenha acesso a tratamentos que respeitem não apenas a eficácia, mas também o conforto.

“Hoje, é possível tratar hemorroidas com menos dor. O medo do pós-operatório não precisa mais ser um obstáculo para cuidar da saúde”, conclui.