A busca por uma oportunidade de trabalho é um desafio para muitas pessoas, mas para a população trans, essa jornada pode ser ainda mais difícil. Discriminação, falta de documentação adequada, ambientes hostis e barreiras educacionais são apenas algumas das dificuldades enfrentadas. Para mudar esse cenário, é essencial que empresas, lideranças e a sociedade como um todo assumam o compromisso de promover a inclusão de pessoas trans no mercado de trabalho.

Dados

A pesquisa do projeto TransVida, em 2022, escancara uma realidade dura: para muitas pessoas trans, o caminho até um emprego digno é marcado por preconceito e exclusão. Desde a escola, onde 42,9% das entrevistadas, sendo a maioria mulheres trans, enfrentam agressões de colegas, professores, familiares, até o ambiente profissional, onde direitos básicos, como o uso de banheiros adequados, são negados. A transfobia impõe barreiras que vão muito além da contratação. O impacto emocional é devastador – metade dos participantes convive com depressão e 60% já pensaram em suicídio.

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No mercado de trabalho, apenas 15% têm carteira assinada, enquanto 27,2% sobrevivem do trabalho autônomo informal e 14,3% recorrem à prostituição. O estudo reforça a necessidade urgente de combater essa exclusão e garantir que todas as pessoas tenham a chance de desenvolver seus talentos e construir um futuro digno. Com um olhar crítico e sensível, Alana Carvalho compartilha suas experiências e reflexões sobre a realidade de tantas mulheres travestis e trans negras que ainda encontram barreiras para acessar direitos básicos.

“Pensando enquanto mulher trans, preta, de periferia, o maior desafio para nós é acessar o mercado de trabalho, diante do pressuposto de onde viemos e para onde queremos ir. Porque nós não fomos educadas para acessar os lugares ditos que são para todos. Mas quando se fala da corporalidade de mulheres trans e travestis pretas, o acesso ainda é mais reduzido”, afirma.

Alana complementa e reforça a necessidade urgente de transformação social.

“Não devemos desistir dos nossos sonhos, por mais dura que seja a realidade. Hoje vemos mulheres trans galgando tantos espaços sociais e políticos — mulheres trans doutoras, advogadas, pedagogas, médicas. É preciso pensar em uma política de formação e educação para pessoas trans que não tem oportunidade”, finaliza.

Principais obstáculos

Daniele Santana, especialista em carreira e RH, destaca que a discriminação é um dos maiores desafios. “Muitas pessoas trans são rejeitadas em processos seletivos simplesmente por sua identidade de gênero, mesmo quando possuem qualificação suficiente para a vaga”, explica. Além disso, a falta de acesso à educação e ao treinamento profissional também limita as oportunidades, criando um ciclo de exclusão.

Outro fator preocupante é a hostilidade no ambiente corporativo. “Mesmo quando conseguem uma colocação, muitas pessoas trans enfrentam desafios diários, como a falta de respeito de colegas e superiores. Isso pode gerar altos níveis de estresse e impactar diretamente sua permanência na empresa”, acrescenta Daniele.

Construção de ambientes inclusivos

Milton Vasconcellos, Coordenador da Comissão Permanente de Acessibilidade e Diversidade da Rede SAC, reforça que a resistência à contratação de pessoas trans tem raízes profundas. “Vivemos em uma sociedade que historicamente segrega minorias. A transfobia não fica restrita às ruas, ela também está presente dentro das empresas”, afirma.

Para mudar essa realidade, Milton acredita que é necessário investir na educação e na convivência. “As empresas podem promover palestras e treinamentos, além de incentivar programas de contratação imediata de pessoas trans em distintos setores da empresa. Isso ajuda a construir uma cultura organizacional mais diversa e acolhedora”, sugere.

A Importância da representatividade

Paulete Furacão, assessora parlamentar, educadora social, poetisa e coordenadora do Coletivo LGBTQIAPN+ Laleska D’Capri, compartilha uma perspectiva diferente.

“Nunca passei por uma situação de preconceito no ambiente de trabalho, porque sempre atuei em instituições que valorizam a inclusão”, conta. Mas ela reconhece que essa realidade está longe de ser a vivida pela maioria das pessoas trans.

Paulete defende a criação de grupos de diversidade dentro das empresas e também a implementação de cotas para pessoas trans em concursos públicos. “Precisamos de políticas afirmativas para corrigir essa desigualdade histórica. As empresas devem fomentar debates e criar espaços de acolhimento para que a inclusão seja, de fato, uma realidade”, enfatiza.

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