A nova investida tarifária do governo norte-americano contra o Brasil – com sobretaxa de 50% sobre os produtos brasileiros – acendeu o alerta não apenas em Brasília, mas também nos supermercados, indústrias e mesas de negociação por todo o país. O “tarifaço”, como ficou conhecido, não é apenas um embate político. É uma ofensiva com efeitos reais na economia, no consumo das famílias e na sobrevivência de setores inteiros da indústria nacional.

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Impactos econômicos diretos: PIB em queda, desemprego e inflação

De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a medida poderá causar uma retração de 0,16% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro – o equivalente a R$ 19,2 bilhões. As exportações devem cair R$ 52 bilhões, resultando na perda de 110 mil postos de trabalho.

Setores estratégicos como o de tratores, máquinas agrícolas, aeronaves, carnes de aves e suco de laranja devem ser os mais afetados. E, com a queda nas exportações, o excedente de produtos deve pressionar momentaneamente os preços para baixo — mas só por um curto período.

A conta logo chega: com o tempo, a produção se ajusta e a inflação bate à porta. É o que explica o economista e vice-presidente do Corecon-BA, Edval Landulfo.

Edval Landulfo

“Os Estados Unidos querem abrir nossos mercados sem contrapartida. Isso pode destruir indústrias nacionais. É uma escalada perigosa, e o Brasil precisa defender sua soberania com firmeza”, afirma.

Estados mais atingidos: onde a economia local vai sentir primeiro

Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Espírito Santo e Minas Gerais são os estados que devem sentir o baque de forma mais intensa. Juntos, devem somar perdas de mais de R$ 11 bilhões no PIB. Isso impacta diretamente pequenos produtores, exportadores e os trabalhadores dessas regiões.

De acordo com a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil), os estados brasileiros que mais exportaram para os EUA, de janeiro a junho/2025, foram:

  • 1 – São Paulo: US$ 6,4 bilhões exportados (31,9% do total brasileiro);
  • 2 – Rio de Janeiro: US$ 3,2 bilhões exportados (15,9% do total brasileiro);
  • 3 – Minas Gerais: US$ 2,5 bilhões exportados (12,4% do total brasileiro);
  • 4 – Espírito Santo: US$ 1,6 bilhão exportados (8,1% do total brasileiro);
  • 5 – Rio Grande do Sul: US$ 950,3 milhões exportados (4,7% do total brasileiro).

Como o tarifaço pode afetar o consumidor comum?

  • Aumento nos preços: produtos norte-americanos importados (como tecnologia, peças automotivas e equipamentos médicos) podem subir de preço caso o Brasil retalie com tarifas.
  • Menos empregos nos setores afetados: com exportações em queda, a produção diminui. Menos produção = menos vagas.
  • Moeda norte americana pode disparar : o dólar pressionando o Real, encarece as compras no exterior para turistas e empresas brasileiras.

“Não é só o agronegócio que perde. Setores da indústria sofrerão impactos nas compras de equipamentos modernos. Precisamos responder com inteligência e equilíbrio”, reforça o economista.

Soberania em jogo: Brasil entre China e EUA

O Brasil está diante de uma encruzilhada geopolítica. Atualmente, as nossas exportações para a China representa 12% do nosso PIB, enquanto para os EUA apenas 2%. Ainda assim, os Estados Unidos insistem em pressionar o país por uma abertura comercial que desprotege o agronegócio e a indústria nacional.

O que o governo brasileiro está fazendo?

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que, caso não encontrem soluções diplomáticas para as tarifas desproporcionais dos EUA, terá que aplicar a Lei de Reciprocidade Econômica. Ou seja, se os EUA taxam, o Brasil também vai taxar. Paralelamente, o governo articula com a indústria, entidades como o Cecafé, Abipesca e CNI, e busca novos mercados com Europa e Ásia para redirecionar as exportações.

O tarifaço não é só um problema para os exportadores brasileiros . É uma engrenagem com dois lados que pode travar uma parte da máquina econômica norte-americana: da indústria ao consumidor. A resposta precisa ser estratégica e rápida, ou os efeitos baterão na porta de cada estadunidense que consome produtos brasileiros – no emprego, no mercado e no fim do mês.

Com informações da Agência Brasil