No imaginário popular, a amarração amorosa aparece como um recurso mágico — e, por vezes, desesperado — para manter alguém por perto a qualquer custo. Porém, o que muitas pessoas não sabem (ou preferem ignorar) é que o preço dessa tentativa de prender o amor pode ser altíssimo: dor, desequilíbrio, karma, confusão e até tragédias.
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Jorge Oliveira, conhecido no mundo espiritual como Tata Jubilê, é líder do centro Unzò de Mutalambô e carrega 34 anos de Axé, iniciado no Candomblé aos 10 anos de idade. Com a voz serena de quem já vivenciou e ouviu muitas histórias , ele alerta. “A amarração só se desfaz com sangue. O amor é limpo, é puro. Não é necessário manipular. O que começa forçado, termina com dor”, afirma.
O feitiço que aprisiona: quando o amor vira cárcere
Conforme o líder espiritual, a amarração amorosa contraria a própria essência da espiritualidade. Ao tentar forçar um amor que não é recíproco, abre-se uma brecha energética que pode trazer graves consequências: brigas constantes, acidentes, confusões sem fim — e uma sensação constante de prisão para ambas as partes.
“Olha aí as brigas acontecendo, os acidentes… porque o destino não era mais aquele porque a pessoa insiste”, pontua.
Sintomas de quem sofreu amarração espiritual
Há sinais perceptíveis, segundo o religioso, em pessoas que foram alvo desse tipo de magia:
- Mudanças repentinas de comportamento;
- Perda de dinheiro e sorte;
- Isolamento social;
- Perda de interesse por tudo, menos pela pessoa que a “amarrou”;
- Relações conturbadas, violentas ou obcecadas;
- Sensação de cansaço espiritual e físico sem explicação;
- Tendências a vícios.
E, ainda mais grave, é que nem sempre a pessoa sabe que foi alvo de uma amarração. Vive aprisionada, sem entender os motivos. Vale ressaltar que quem fez a amarração amorosa também pode sentir os sintomas acima citados e adquirir uma carga negativa espiritual pelo desrespeito com o livre-arbítrio do outro.
Espiritualidade exposta e a responsabilidade dos líderes
Em tempos de globalização e redes sociais, Jorge Oliveira questiona a a exposição exarcebada da espiritualidade, de ritos que deveriam ser respeitados e mantidos em sigilo, da criação de fake news e da venda da fé através de milagres com ‘prazos de entrega’. ” Estão fazendo comércio da espiritualidade. Isso é muito triste. A fé virou vitrine. E o pior: estão falando coisas que nem existem dentro do nosso culto”, denuncia.
Para ele, o verdadeiro líder espiritual tem o dever de orientar com verdade. “Eu não estou aqui para iludir. Se aquele amor já não está mais no caminho, a gente precisa trabalhar o esquecimento. Libertar para abrir caminhos, não para trancar”, conclui.
E quais os caminhos para relações desgastadas?
O líder religioso cita algumas opções para fortalecer e aquecer relações desgastadas pelo tempo. “Tomar banhos com ervas específicas, fazer ebós para adoçar a relação, aumentar a química, isso sim. Isso é magia verdadeira. O casal se olha de novo, se sente de novo. A magia das folhas, do chá, do abraço de Iemanjá ou Oxalá… Tudo isso é força de cura, não de aprisionamento”, explica.
Ele também defende o uso consciente dos chás, orações e sabedorias ancestrais para curar a dor de um amor perdido ou reavivar o sentimento onde ainda existe vínculo.
Entre o amor e o livre-arbítrio
A conclusão é clara: o amor precisa ser livre para ser verdadeiro. Não se constrói felicidade sobre o desejo de aprisionar. Ao tentar manipular a vontade do outro, o que se ergue é uma casa sobre lama — frágil, instável e perigosa. A espiritualidade, quando verdadeira, não controla, orienta. Não aprisiona, liberta.
“Amor não se obriga, acontece naturalmente. Que cada um busque o sagrado não como atalho para a ilusão, mas como caminho para a verdade. Porque, no fim, a maior magia que existe ainda é o amor que escolhe ficar”, finaliza.