O dólar voltou a ser destaque no mercado financeiro ao atingir R$ 6,18, uma alta de 1,87% em relação ao pregão anterior. Esse valor representa o segundo maior patamar nominal da história, ficando atrás apenas da cotação recorde de R$ 6,26 registrada na última quarta-feira (18/12). A disparada reflete um cenário de incertezas tanto no Brasil quanto no exterior, que tem levado investidores a buscar refúgio na moeda americana.

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Fatores internos: o entrave fiscal

Especialistas apontam que as incertezas fiscais no Brasil têm sido um dos principais motores da valorização do dólar. Apesar da aprovação do pacote de corte de gastos pelo Congresso, a medida foi considerada insuficiente por economistas. As projeções de economia para os próximos dois anos variam entre R$ 42 bilhões e R$ 55 bilhões, bem abaixo da meta inicial do governo, de R$ 71,9 bilhões.

A falta de consenso sobre o impacto das medidas reflete um cenário de desconfiança, agravado pela ausência de intervenções pontuais do Banco Central (BC) no mercado de câmbio nesta segunda-feira, após a autoridade monetária ter injetado US$ 23,7 bilhões na semana anterior.

Cenário global: juros elevados nos EUA

No âmbito internacional, a política monetária restritiva do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, também tem contribuído para a valorização global do dólar. Com juros elevados, atualmente entre 4,25% e 4,50%, os títulos da dívida americana, conhecidos como Treasuries, atraem investidores, reduzindo a oferta de dólares em outros mercados.

O recente comunicado do Fed, que indicou menos cortes de juros em 2024, reforçou a tendência de fortalecimento da moeda americana. Esse cenário tem pressionado ainda mais o câmbio em países emergentes, como o Brasil.

Impactos no mercado financeiro

O fortalecimento do dólar também refletiu em uma queda na Bolsa de Valores brasileira. O Ibovespa, principal índice da B3, recuou 0,90%, fechando a 121.004 pontos, o menor nível desde junho. Segundo analistas, o pequeno volume de negociações por conta das festas de fim de ano intensificou a volatilidade. A saída de recursos pelas multinacionais, típica do fim de trimestre, adicionou mais pressão ao câmbio.

Projeções e perspectivas

O Relatório Focus, divulgado pelo Banco Central, sinaliza um cenário pessimista para a moeda brasileira. As projeções para o dólar em 2024 subiram para R$ 6,00, enquanto para 2025 e 2026 as estimativas também seguem em alta, atingindo R$ 5,90 e R$ 5,84, respectivamente.

Combinando fatores internos, como o entrave fiscal, e externos, como a política monetária dos EUA, o mercado financeiro brasileiro segue sob pressão. Para os próximos dias, o anúncio de uma nova intervenção do BC, com a venda de US$ 3 bilhões à vista, poderá trazer alívio momentâneo, mas os desafios estruturais permanecem.