Com a chegada do período chuvoso, a rotina pede mais do que guarda-chuva e paciência no trânsito. Exige consciência. O lixo jogado fora do lugar certo pode ser o vilão invisível dos alagamentos, entupimentos e até da proliferação de doenças. Um problema que nasce no descuido cotidiano e se transforma em caos nas ruas — mas que tem solução ao alcance das mãos.

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Por que o lixo descartado incorretamente vira problema nos dias de chuva?

  • Obstrução de bueiros e bocas de lobo: resíduos sólidos arrastados pelas enxurradas entopem a rede de drenagem urbana.
  • Alagamentos e transtornos: o lixo impede o escoamento da água da chuva, causando inundações em diversos bairros.
  • Riscos à saúde pública: o acúmulo de resíduos atrai vetores de doenças como ratos, baratas e mosquitos, especialmente em períodos de calor e umidade.

Perigos de desmoronamentos

Quando o lixo entope a drenagem e impede a água de escoar, o solo paga o preço — com instabilidade, erosão e, nos casos mais trágicos, com desabamentos fatais. Em Salvador, onde centenas de comunidades estão localizadas em áreas de encosta, o acúmulo de resíduos sólidos agrava ainda mais o risco de deslizamentos. A água da chuva, sem ter por onde fluir, infiltra-se de maneira desordenada, empurrando a terra até que ela cede.

Ano após ano, vidas são ceifadas nesses desmoronamentos silenciosos que começam com um saco de lixo jogado na rua. Crianças, mães, idosos: rostos que somem entre os escombros, vítimas não apenas da chuva, mas do descuido coletivo. Em 2023, a estimativa é que pelo menos 15 pessoas morreram soterradas em Salvador por conta de deslizamentos de terra causados por chuvas intensas — parte deles em áreas com histórico de descarte irregular de resíduos.

Preservar o solo urbano é preservar a vida. Cada garrafa plástica retirada da calçada, cada entulho levado ao ecoponto, é uma ação de resistência contra o colapso. E um gesto de cuidado com quem mora nas partes mais vulneráveis da cidade.

Lixo nas ruas, contaminação nos mares

O ciclo do descarte irregular não termina nos bueiros — ele se estende até o oceano. Quando a chuva arrasta resíduos urbanos para os canais e rios, o destino final costuma ser o mar. E os impactos são devastadores:

  • Contaminação da água salgada: plásticos, metais pesados e substâncias químicas comprometem a qualidade da água, afetando a biodiversidade marinha.
  • Animais intoxicados e feridos: tartarugas, aves, peixes e golfinhos confundem plástico com alimento, ingerem resíduos ou ficam presos em objetos descartados.
  • Danos à cadeia alimentar: a ingestão de microplásticos compromete toda a cadeia trófica, chegando até o prato do ser humano.
  • Impactos no turismo e pesca: praias poluídas afastam turistas e afetam comunidades que dependem do mar para sobreviver.

Em uma cidade litorânea como Salvador, cuidar do lixo é também cuidar do mar — e da vida que ele abriga.

Onde descartar corretamente?

Segundo a coordenadora de Educação Comunitária da Limpurb, Rosemary Mascarenhas:

  • Entulhos, móveis e galhos: devem ser descartados nos ecopontos.
  • Lixo doméstico: precisa ser colocado em sacos resistentes e bem amarrados, próximo ao horário da coleta — preferencialmente com até uma hora de antecedência.
  • Nada de jogar nas ruas: o lixo deve respeitar a modalidade de coleta (porta a porta ou contêineres) existente em cada bairro.

Onde estão os ecopontos de Salvador?

Para facilitar o descarte correto de entulhos e objetos volumosos, Salvador conta com quatro ecopontos ativos:

  • Itaigara: Rua Wanderley de Pinho, acesso pela Av. ACM (atrás do Hiper Posto BR)
  • Itapuã: Rua Alto do Abaeté (em frente à sede do bloco Malê Debalê)
  • Alto da Terezinha: Rua Cardeal Jean, localidade do Mané Dendê
  • Bom Jesus dos Passos: Rua da Fonte Nova

Dicas práticas para evitar transtornos

  • Não jogue lixo nas ruas, calçadas ou terrenos baldios.
  • Mantenha quintais e áreas abertas livres de resíduos.
  • Use sacos resistentes e bem amarrados.
  • Evite colocar o lixo com muita antecedência: isso aumenta as chances de rompimento ou arraste pelas chuvas.
  • Denuncie descartes irregulares.

Multas por descarte irregular

Quem joga entulho nas vias públicas pode pagar caro por isso. Os valores variam conforme a gravidade da infração:

  • Pessoas físicas: de R$ 117,85 a R$ 1.767,67
  • Pessoas jurídicas: de R$ 471,37 a R$ 3.535,31

A responsabilidade também é sua

O descarte correto de resíduos é um pacto silencioso entre cada cidadão e a cidade. Em tempos de chuva, essa responsabilidade ganha ainda mais peso — e urgência. Evitar alagamentos, proteger a saúde da população e preservar o meio ambiente começa com gestos simples, mas poderosos. Não espere a água subir para mudar de atitude.