A atuação do assistente social no suporte às vítimas de violência doméstica é um trabalho desafiador, que exige sensibilidade, preparo e articulação com diferentes áreas de serviço público. Segundo Lizandra Coutinho, assistente social com experiência em ONGs que atendem crianças e adolescentes com autismo e suas famílias, bem como vítimas de violência doméstica, o reconhecimento dessas situações muitas vezes se dá pela observação cuidadosa de comportamentos e diálogos, que podem revelar traumas e abusos vividos em silêncio.

Assistente social fala sobre desafios na área da violência doméstica

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De acordo com uma pesquisa feita pelo DataSenado, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência, em 2023, três a cada dez brasileiras já foram vítimas de violência doméstica. A violência doméstica é qualquer comportamento agressivo ou abusivo, baseado no gênero, que cause dano ou sofrimento físico, psicológico, sexual, moral ou patrimonial à vítima. Essa violência pode ocorrer no ambiente familiar, no trabalho ou até em locais públicos, e o agressor pode ser tanto alguém da família quanto parceiros íntimos ou pessoas do convívio próximo.

A assistente social enfatiza que o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) é uma ferramenta fundamental nesse processo, proporcionando uma rede de proteção que inclui serviços como os Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS). “O SUAS oferece às mulheres em situação de violência doméstica acesso a políticas públicas de acolhimento e proteção, o que é crucial para a garantia de seus direitos e segurança”, explica. Essa rede de suporte também conta com Centros de Referência para Mulheres em Situação de Violência e casas de abrigo, onde as vítimas em risco iminente de morte encontram refúgio seguro.

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No entanto, o caminho para um atendimento eficiente não está isento de obstáculos. Lizandra destaca que a escassez de recursos e a falta de delegacias especializadas são grandes desafios para a categoria. “Muitas vezes, não temos uma estrutura adequada para oferecer um atendimento especializado e contínuo. As denúncias, por exemplo, precisam ser acompanhadas de medidas protetivas, e nem sempre temos a garantia de que as mulheres conseguirão recomeçar suas vidas sem desistir do processo”, relata.

Ela ainda reforça a importância de uma rede integrada de atendimento, que envolva áreas como saúde, justiça, segurança pública e assistência social. Somente dessa forma, é possível garantir o fortalecimento das vítimas e suas famílias. “O assistente social precisa trabalhar de maneira colaborativa com todas essas áreas para garantir um atendimento de qualidade e ajudar essas mulheres a reconstruírem suas vidas”, conclui.

A experiência de Lizandra em ONGs contribuiu para aprimorar sua abordagem, permitindo que ela atuasse de maneira mais assertiva no acolhimento dessas vítimas e na mediação com outros serviços.