Apesar de ser uma das maiores capitais do Brasil, Salvador ainda enfrenta sérias deficiências em políticas públicas voltadas à comunidade LGBTQIA+. Para entender melhor essa temática, o Portal A Teia convidou o ativista e editor-chefe do site Dois Terços, Genilson Coutinho, que falou sobre alguns dos desafios da comunidade LGBTQIA+.
Segundo Genilson, serviços essenciais como saúde, acolhimento psicológico e jurídico são ainda escassos. Para ele, além de expandir as políticas públicas, é necessário que o setor privado vá além da criação de comitês de diversidade e invista diretamente no apoio à comunidade.
“A esfera municipal e estadual oferece muito pouco diante das demandas imensas da população”, afirma.
Educação como base do respeito e combate à violência
A educação é apontada como o principal caminho para combater a violência e o preconceito. Genilson destaca a importância de ensinar sobre diversidade desde cedo, promovendo o respeito às diferenças. Ele reforça que, embora existam leis como a Lei do Racismo (7.716/89) e legislações municipais e estaduais que criminalizam a LGBTfobia, é preciso visibilizá-las e aplicá-las.
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“O silêncio nunca será o melhor caminho. Precisamos mostrar que essas violências têm consequências legais”, enfatiza.
Inclusão no mercado de trabalho: uma luta para pessoas trans
A empregabilidade de pessoas trans é outro ponto crítico. Dados mostram que menos de 0,03% dessa população está inserida no mercado formal, e os cargos de liderança são praticamente inexistentes. Para o ativista, programas de retorno escolar e formação continuada são essenciais para romper barreiras de preconceito e garantir oportunidades. Apesar de avanços acadêmicos, como a presença de pessoas trans em cursos de graduação e pós-graduação, a inclusão no mercado de trabalho ainda está distante do cenário ideal.
Saúde e cultura
A saúde e a cultura também precisam de atenção redobrada. Genilson defende a criação de programas educacionais dentro das escolas para combater a LGBTfobia e a contratação de assistentes sociais e psicólogos, visando o bem-estar mental de estudantes e professores. Além disso, propõe maior divulgação sobre o acesso a medicamentos preventivos para ampliar a conscientização sobre a saúde da população LGBTQIA+. Na cultura, ações que incluam jovens periféricos, LGBTQIA+ ou não, são vistas como fundamentais para promover a inclusão social.
Representatividade
A luta por representatividade é central para o ativista. Genilson reforça que é necessário ocupar espaços historicamente negados à comunidade LGBTQIA+, desde o mercado de trabalho até os centros de poder político. Para ele, essa inclusão ajuda a construir ambientes mais saudáveis e promove a convivência com a diversidade.
“Chegar lá é desafiador, mas todo dia rompemos bolhas para ocupar esses espaços”, diz.
Comunicação: uma ferramenta para a transformação
A comunicação, especialmente por meio da internet, é vista como um dos instrumentos mais poderosos para a luta LGBTQIA+. Genilson acredita que visibilizar pautas e demandas da comunidade amplia o alcance e atrai novos aliados.
“Essa é uma luta de todos, não só minha. Usar as ferramentas disponíveis para fortalecer nossas causas é essencial”, conclui.
O ativista reforça a importância do diálogo, da resistência e da construção coletiva para criar uma Salvador mais inclusiva e justa para todos os cidadãos.